O ano é 2018, os avanços tecnológicos acontecem a uma velocidade cada vez maior, porém nosso progresso como sociedade parece seguir a passos um pouco mais lentos. As redes sociais são um grande exemplo disso, espaço idealizado para que pessoas troquem ideias, sonhos e até seus problemas procurando acolhimento, um lugar que tinha tudo para ser um lugar pacífico, mas que hoje vive inundado com uma grande carga de comentários negativos, brigas e debates sem sentido.
As vitórias individuais que poderiam ser celebradas pelo coletivo, viram discórdia na internet, fazendo com que muitas vezes sobre espaço apenas para a crítica. Até o que vai ser dito, seja você uma pessoa pública ou não, precisa ser muito pensado para que não seja mal interpretado. Tempos complexos.
Antes das redes sociais sonharem em existir, em uma época em que o povo negro apenas levava vantagem quando conseguia dar nó em pingo d’água, eis que viveu Inácio da Catingueira. Uns dizem que existiu, outros que é só lenda, mas sabemos que era um escravo que travou uma peleja com Romano Caluete, pequeno proprietário rural da Paraíba, ali por volta de 1870. Poeta, Catingueira debateu ideias por oito dias a fio e nisso ganhou sua liberdade no papo, mostrando toda a sua habilidade de argumentação.
Com Emicida não foi muito diferente. Quem conhece sua história, sabe que ele veio de condições adversas e por meio da sua maestria com as palavras venceu discussões, Rinha de MCs, Batalha da Santa Cruz e até uma Liga dos MC’s. Isso não foi suficiente para evitar que críticos sigam procurando falhas, atitudes questionáveis ou possíveis contradições, seja no que é falado ou até no que não é dito. “Ó lá, o neguinho perdeu a cabeça, eu disse que ele não servia pra isso”, apontam os críticos sem nome e sem rosto.
“O frustrante quando você luta contra essas estruturas é que por mais que você alcance sua liberdade individual, no coletivo seus irmãos tão tudo acorrentado. E a maior coisa que você pode ter, que é a sua liberdade, acaba se tornando uma coisa menor porque quando você olha no entorno as correntes estão em todo mundo menos em você. Aí cê se sente mal por isso também, tá ligado?”, reflete Emicida.
Por meio da música, Emicida se expressa como ninguém. E em “Inácio da Catingueira”, single lançado no dia 18 de setembro, sua verborragia lírica vem com foco e dispara contra quem quer mais barulho sem sentido do que ideias trocadas em prol de uma evolução qualquer. Com instrumental de seu parceiro de longa data, DJ Duh, a música ganhou um lyric vídeo tão impactante quanto a rima, dirigido por André Maciel, artista plástico, ilustrador e fundador do estúdio Black Madre Atelier.
“Criar esta extensão de animação e motion graphics dentro do estúdio veio de um bate papo com a Tina Castro e Rafaela Lopez, parceiras de longa data. Elas me perguntaram porque não desenhar e animar no mesmo lugar com o mesmo know-how e toda curadoria viria pela Black Madre. Pensamos por algum tempo e então decidimos acreditar nesta ideia”, conta André. Além do clipe, um app foi criado para permitir que o usuário ganhe um avatar personalizado, no estilo xilogravura que aparece na capa desse single.
O single “Inácio da Catingueira” é uma realização Laboratório Fantasma Produções será lançada nesta terça-feira, 18 de setembro, no canal do youtube de Emicida e também em todas as plataformas de streaming.